terça-feira, 13 de novembro de 2007

Eu tenho medo!

Eu tenho medo.
Confesso!
Com as mãos para o alto, digo descaradamente: Eu. Tenho. Medo.
Joguem pedras em mim se quiserem, mas tenho absoluta certeza de que vocês também têm. Medo. Em um sentido geral.
Medo da vida, dos sentimentos, do futuro, do passado, do desconhecido, do que é conhecido demais... E tantas outras coisas.
Todos nós temos medo. Embora alguns saibam enganá-lo de modo muito mais eficiente do que outros.
Eu, conclui outro dia, tenho fases de relacionamento com meus medos. Como qualquer relação complexa, mostro em alguns momentos uma força incrível para enfrentá-lo, enquanto por outros instantes deixo-o me vencer. É uma mera questão de lógica irracional que mesmo sem perceber mantemos. O problema, todavia, encontra-se no instante em que o jogo torna-se cansativo e você já não agüenta mais deixar-se, mesmo que por vezes muito às vezes, perder. É como o ápice turbulento do relacionamento, quando a magia começa a desvanecer e a realidade brutal aparece, como o assassino de Psicose, atrás de você com uma machadinha.
Neste crítico momento que nossa vida vira um caos. Não sabemos como agir. Não temos certeza se nos desapegar do medo é algo totalmente seguro, correto. A razão, claro, é a possibilidade de nos arrependermos de romper o laço tão forte, de iniciar outra rotina. Tão longe daquilo que conhecemos tão bem. Afinal, qualquer relação tão duradoura, não tem um final tão calmo quanto podemos imaginar. Mas seguimos assim, meio apegados e desapegados dele. Do medo. Fugindo e correndo atrás. O detestando, mas por vezes lamentando sua falta de presença. Tentamos manter o relacionamento. A todo custo. Criamos alternativas, opções que julgamos que serão coerentes e manterão as coisas equilibradas. Mesmo ainda oscilantes sobre a relação, tentamos seguir a diante. Dar mais passos sem precisar terminar tudo.
Porém, mal enxergamos (e por mais que queiramos nunca conseguimos) que essa tentativa se torna cada vez mais falha, mais tosca. Que fingir que nada está acontecendo é um problema maior do que a empatia de antes. Passamos a olhar o medo e ter nojo dele. A nos irritar quando ele aparece e a xingá-lo quando não o faz. Fazemos de tudo para irritá-lo, tentando, assim, não ter de dar o primeiro passo e chuta-lo. Passamos a relação para uma situação superior ao caos, pior do que jamais sonharíamos. E nos mantemos assim até decidirmos que é melhor terminar de vez com o medo. Extermina-lo. E fazemos isto. Mesmo que seja complexo, mesmo que demore. Conversamos e enfrentamos o medo. Batemos nele se necessário, embora não julguemos muito apropriado. Agimos ações calculadas e nos tornamos cada vez mais frios. Sentamos ao lado e conversamos com o medo. Explicamos a ele tudo. Em detalhes sórdidos. E terminamos.
De início, é difícil. Porém seguimos em frente. E aos poucos esquecemos dele. Do medo. De suas bobagens. Verificamos como somos melhores sem ele. Vivemos mais livres, mais soltos. Abrimos os braços e conhecemos outros tantos. Seguimos em passos cada vez maiores. E quando finalmente estamos esquecidas, desprevenidas, sem precaução alguma, conhecemos alguém novo. De feições bonitas, elegantes. E passamos a explorá-lo, a conhecê-lo, a nos apegar a ele. E ao perguntarmos seu nome, levamos a mão a boca em um ato de surpresa. É o medo. Em nova forma. Em outro aspecto.
Eu tenho medo. Confesso! Com as mãos para o alto, digo descaradamente: Eu. Tenho. Medo.
Tenho medo das várias formas do medo. Das suas mutações sem sentido. De suas enganações que nos iludem.
Eu tenho medo.
Confesso!
Tenho medo do medo.

3 comentários:

yuri braga disse...

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de ascender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como un laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá

yuri braga disse...

isso é lenine, miedo.

parabéns meninas, adorei os textos aqui.

Glauber Ramone disse...

ah, Cra
deixa de ser cagona e vamos enfrentar as coisas de frente, vai?
o segredo é saber controlar o medo

e sabe como vc faz isso?
chupando sorvete! =*